sábado, fevereiro 20, 2021

A semente da Inovação deve ser plantada




 Escrevi um artigo no blog do Uniso Tech, o Parque Tecnológico da Universidade de Sorocaba. 

Segue o texto:

Pode me chamar de indelicado, mas já vou começar este meu artigo propondo um desafio: você sabe me dizer o nome de três jogadores de futebol famosos? Não, nem vou citar um ou outro goleador aqui. É praticamente impossível alguém neste Brasilzão não conhecer pelo menos um nome futebolístico, seja da atualidade ou do passado.

Pode ampliar a minha classificação para chato ou indelicado ao quadrado, mas vou fazer um segundo desafio: você seria capaz de citar três nomes de cientistas brasileiros famosos? Nessa hora, tenho quase certeza que aquele famoso barulhinho de grilo cri – cri – cri está passando pela cabeça da maioria dos leitores que ainda estão por aqui.

Não quero causar desconforto em ninguém, mas apenas mostrar uma realidade tão triste e tão brasileira: sabemos mais de futebol do que das coisas da Ciência, e menos ainda da Ciência tupiniquim. Já ouvimos falar de Charles Darwin, Albert Einstein, Louis Pasteur, Stephen Hawking, mas pouco sabemos sobre César Lattes, Milton Santos, Carlos Chagas, Duilia de Mello ou Marcelo Gleizer, por exemplo.

Não, não se sinta culpado. Isso acontece com você e com centenas de milhares de brasileiros. Basta sair às ruas, pegar um ônibus, ouvir uma rádio, assistir a um telejornal ou mesmo acessar os principais canais de comunicação ou redes sociais na internet. Os assuntos Big Brother, campeonato brasileiro, Champions League dominam as conversas nas ruas.

Antes de continuar e que o pessoal do Esporte me critique, preciso abrir um parênteses e dizer que quando faço esse comparativo entre conteúdo científico e conteúdo esportivo, é apenas ilustrativo. Alguém pode argumentar ‘ah, mas há ciência envolvida no material esportivo’. E eu concordo. A Ciência está presente em muitos assuntos do nosso cotidiano.

Há ciência no conteúdo esportivo sim, nas táticas dos times, nas reportagens de saúde dos atletas, nas tecnologias implantadas para verificar o desempenho dos jogadores em campo ou até mesmo no VAR (Video Assistant Refereea), tecnologia que tem sido usada para apoiar as decisões dos árbitros e que tem causado tantas alegrias e tristezas. Então concordamos neste ponto: há conteúdo científico no material jornalístico, mas acredito que ainda é muito pouco e poderia ser bem maior, caso o público cobrasse esse tipo de informação mais apurada.

Uma pesquisa que fiz em 2009 e 2010 em 15 jornais do interior do Estado de São Paulo mostrou que apenas duas matérias apresentavam conteúdo científico dentre as 1673 reportagens esportivas publicadas por esses 15 jornais. Como disse, é pouco. A Ciência poderia estar bem mais presente em nosso dia a dia.

Isso mostra que temos uma Cultura que não contempla a Ciência. Grosso modo, a Cultura de um povo é aquilo que determinada sociedade tem como hábito. Passa pela culinária, pela língua, pela apreciação artística, literária. E nossa Cultura apresenta pouco espaço para aprendermos sobre Ciência, Tecnologia e Inovação porque sempre foi assim. E se nada for feito, nada vai mudar.

Importante termos consciência do atual cenário e termos a certeza de que podemos mudar. E isso é algo muito difícil, afinal, não se muda uma Cultura da noite para o dia. Pelo contrário, leva tempo, investimento e perseverança.

A literatura nos mostra que não há um grupo de tópicos a serem seguidos para mudar uma Cultura de todo um País que nos dê a certeza de que tudo vai dar certo. Há coisas que deram certo em um lugar e errado em outro. E vice-versa. Mas o que há de comum nas experiências exitosas é que houve investimento na Educação.

E a Universidade de Sorocaba tem contribuído para plantar essa semente da Educação e mudar a Cultura de nosso povo, melhorando o conhecimento e a informação consumida pelos brasileiros.

Em toda sua história, a Uniso sempre foi referência na formação das pessoas (foram mais de 50 mil até o final de 2020) e, de uns anos para cá, a Universidade tem levado o conhecimento científico à população por meio do jornal tabloide Uniso Ciência e pela revista Science @Uniso, tirando a produção científica das prateleiras acadêmicas e levando o conhecimento para dentro dos lares.

É preciso plantar e a Universidade de Sorocaba já está semeando há tempos. Agora dá mais um passo, criando o Uniso Tech, um ambiente que pretende abrigar conhecimento e dar suporte às boas práticas e iniciativas. De ser ponte entre a teoria e a prática, fazer se encontrarem as pessoas que têm ideias complementares, mas não se enxergam no dia a dia e colocando seu pessoal e seus laboratórios para serem usados em busca de inovações.

Pois de uma Nação que não tem o hábito de pensar, praticar e consumir Inovação não dá para cobrar práticas inovadoras. Como vimos, não dá pra cobrar conhecimento das coisas das Ciências de uma sociedade que não tem o hábito de ler, ouvir, assistir ou receber informação sobre esse assunto.

Um resultado exitoso disso tudo pode não chegar tão rápido, mas certamente virá e, quando chegar, a universidade comunitária da região de Sorocaba, a Uniso, poderá se orgulhar de ter semeado a Cultura Científica e Cultura da Inovação e participado de todo esse processo de mudança e melhoria de toda sua comunidade.

sexta-feira, janeiro 13, 2017

Partido Sorocabano dos Trilhos, nova tentativa





Dia desses, li que o prefeito de Sorocaba, José Crespo, pensa em transformar a área da Estação Ferroviária em um centro cultural. Acho importante, mas o local poderia ser usado para outro fim, aproveitando as estruturas já implantadas no local.

Não sou contra um centro cultural, pelo contrário. Mas esse espaço à cultura poderia ser implantado em outro local e não na Estação, que guarda uma estrutura tão singular.
Reproduzo esse artigo abaixo - publicado no jornal Cruzeiro do Sul em 2006 - pois acredito que a Estação Ferroviária seria o local ideal para abrigar toda uma estrutura voltada à produção de Pesquisa e Desenvolvimento de produtos e serviços inovadores na área do transporte ferroviário.

Propus em 2006 e continuo acreditando nisso, que Sorocaba tem um local praticamente pronto (com trilhos, áreas de manobra, oficinas e locais para a parte administrativa e educacional) bastando apenas a vontade política de levar essa ideia adiante e abrir mais um leque de oportunidade para toda a região.
Segue o artigo publicado em 15de junho de 2006, no jornal Cruzeiro do Sul.


Partido Sorocabano dos Trilhos

Ferrovias. Investir ou não nelas? O presidente Lula anunciou recentemente que irá incentivar a ferrovia no País para reativar aquele que é um dos mais importantes meios de transporte de carga no mundo todo, menos no Brasil. E Sorocaba não deve perder mais esse bonde da história que corre o risco de passar. Expandida sociofinanceiramente pela criação da Estrada de Ferro Sorocabana, a cidade sediou o desenvolvimento da região pelos trilhos.

Com o incentivo à indústria automotiva, a ferrovia foi à bancarrota chegando ao completo sucateamento, anos atrás, até que as empresas privadas viram a grande chance de alavancar o mercado de transporte de cargas utilizando a ferrovia e optaram por voltar a investir nos trens. Dentro desse contexto, Sorocaba ficou com um grande pátio de manobras e uma das mais belas estações ferroviárias, bem como prédios da manutenção que são históricos e funcionais.

Recentemente, a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba (Aeas) apresentou um projeto de reformulação de todo o pátio. Pelo projeto, terminais de ônibus, parques e lago seriam construídos em toda a área, para devolvê-la ao sorocabano. O maior impasse, segundo os arquitetos e engenheiros idealizadores, é o político e o judicial.

A restruturação arquitetônica é vistosa e necessária, mas a utilização da área poderia ser melhor aproveitada. Por que não transformar toda aquela área em um Centro Tecnológico Ferroviário, em que o local seria um grande laboratório? Está tudo lá: os trilhos, os prédios, as oficinas para os testes. Quer aproveitamento da população melhor do que esse? Sorocaba tem sua história amplamente ligada à ferrovia. O trem, embora não seja o nosso cotidiano, está no sangue do sorocabano.

Aproveitando isso, penso que os políticos em suas três instâncias - município, Estado e União - poderiam arquitetar uma política pública de longo prazo para que a cidade se torne mais um pólo tecnológico do Estado e, quiçá, do Brasil. O pólo funcionaria aos moldes do Centro Tecnológico Aeronáutico (CTA), em São José dos Campos, surgido de uma política pública implementada na década de 50, em que o incentivo à ciência foi intenso no Brasil. Na época, foi definido que ali seria o CTA. O Instituto Tecnológico Aeronáutico (ITA) foi construído e, a partir de então, as indústrias ligadas à área aeronáutica foram se aproximando, de forma que hoje estão todas reunidas naquela região.

Em Sorocaba não seria diferente. Por meio de uma política de desenvolvimento de longo prazo, poderiam os agentes envolvidos (políticos, universidades, população) se planejar para direcionar tudo para o desenvolvimento do Centro Técnico Ferroviário, assim como cursos universitários, que trabalhariam no desenvolvimento de motores, vagões, trilhos, tecnologia e desenvolvimento de materiais que barateassem a produção de trens. Seríamos, então, fornecedores de materiais e tecnologia nesta área para atender ao mercado interno e externo. Ou seja, em vez de o Estado ter que comprar trens da Espanha, como os que correm nos trilhos da CPTM, os trens que levariam paulistas e brasileiros para todo canto seriam “made in Sorocaba”.

Com essa proposta clara e defendida a longo prazo pelos nossos representantes políticos, Sorocaba resolveria um problema que tem surgido ao Estado: o de não representar uma solução do ponto de vista científico e tecnológico. Basta observar. Quando nossos governantes vão à União ou ao Estado pedir verbas, o que apresentam de solução aos problemas desses governantes? O leitor pode pensar: “ah, temos indústrias que evitam maior desemprego. Ah, temos hospitais. Pagamos impostos”. As outras grandes regiões também têm e pagam. A questão que interessa à União e ao Estado é: qual problema Sorocaba poderia ajudar a resolver? Basta responder a essa questão para ter acesso ao dinheiro. E Sorocaba, do ponto de vista científico e tecnológico, não está respondendo a essa questão. Esse peso que Sorocaba representa - de só esticar uma mão - ficou muito claro na recente escolha de cidades como pólos tecnológicos pelo Estado. Quais foram as cidades escolhidas? Campinas, São José dos Campos, São Carlos, Ribeirão Preto e São Paulo. O Governo do Estado vai investir maciçamente nessas cidades porque elas apresentam soluções nas suas respectivas áreas, já desenvolvidas. Campinas está voltada para a ciência da computação, a tecnologia da informação e a comunicação. São Carlos deverá privilegiar a área de novos materiais, óptica e instrumentos para a agricultura; São José dos Campos, a área aeroespacial e de defesa; São Paulo, a de nanotecnologia e biotecnologia; e Ribeirão Preto, o desenvolvimento de equipamentos médicos, hospitalares e odontológicos. Logo de cara, o Estado irá destinar R$ 11 milhões para implantar esses 5 parques tecnológicos. Até o final do ano, serão R$ 20 milhões.

Poderíamos nos planejar para um dia oferecer pelo menos essa proposta: a de desenvolver tecnologia ferroviária para transporte de cargas e passageiros, assunto que interessa ao País e ao Governo do Estado, afinal, as estradas não têm mais condições de tráfego de tanto fluxo. O próprio Vale do Ribeira - conhecido como Ramal da Fome - poderia crescer com o escoamento da produção via ferrovia, com a mercadoria chegando a São Paulo com preços mais competitivos que atualmente. Daí a minha pergunta inicial: vale a pena Sorocaba planejar seu crescimento na ferrovia? Enquanto não pensarmos nisso, amargamos mais uma vez a derrota de somente ver o bonde passar.


segunda-feira, janeiro 09, 2017

Meu primeiro programa de rádio


Em 2016 fiz um programa de rádio, chamado Ciência e Tecnologia no Ar, na Sorocaba Web Rádio, da Prefeitura de Sorocaba. O programa discutiu o tema da C&T e apresentou o trabalho feito pelas empresas incubadas do Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS). Foi minha primeira experiência profissional em uma rádio e garanto que gostei de ter feito.

Não há como não deixar de citar a ajuda importantíssima de Douglas Valle, que colocava a bola na marca do pênalti para eu chutar, uma vez que eu tenho pouca experiência nessa área radiofônica.

Foram 12 programas ao todo. E foi uma experiência muito gostosa e interessante. Gostaria de ter feito mais, mas nem sempre era possível, seja por outras prioridades, ou falta de agenda dos entrevistados. Espero que seja apenas a primeira de tantas outras oportunidades no rádio e nesta área que gosto tanto, que é a divulgação de C&T e Inovação.

Para ouvir os programas, basta acessar os links abaixo.


1º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-YjVwSHM1UHBiQk0
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-UnZhYUdrVURXQWs


2º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-V1dNWDhyVEowVkE
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-cFk5WV9PV0FEZTA

3º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-QnVTMVZ1dXhZcEU

Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-RUZxSjlFZl9jVTQ

4º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-RkhpTWUzdnkxVDA
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-dlRHU1ZwU240S0E

5º Programa
 Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-dVVsbWQ3ajJLZEE
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-ZHhEdm90TGhwaVE

6º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-Y2RtbUl1Ri1lLVk
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-dVo2eUJEY3NPZGc
Parte 3 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-d0dFMXNHOE9XdU0

7º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-amRxRGZSX0JNdXc
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-TE4tbG8wT2hSQW8

8º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-MjBqQWNIaFpTcTg
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-TjNSc2dQYUE3aWM

9º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-T1ZyNXFZT2pZUm8
Parte 2 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-RWlySXEwZDl4Qnc

10º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-N09CZVc0amhWUXc

11º Programa
Parte 1 -https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-dEl5Yzhac3FXSGs

12º Programa
Parte 1 - https://drive.google.com/open?id=0B8rcUhtzNHl-X1hRMzVpYk0zQzA





sábado, setembro 27, 2014

A primeira capa ninguém esquece

Na vida profissional de um jornalista, algumas tarefas são consideradas "nobres". Uma delas é a elaboração da capa do jornal. Isso porque criar a capa é um desafio diário. São inúmeros assuntos, centenas de fotos para tentar compor o melhor "cartão de visita" ao leitor. Falo cartão de visita, porque penso que a capa é o convite visual - com número de informações restritas - ao leitor para que ele abra o jornal e leia as matérias. Além de iconográfico, é também um desafio matemático, pois você tem que colocar o maior número de informação possível de informações importantes naquele espaço disponível no papel jornal.

Neste final de semana, fui convidado pelo editor-chefe do Cruzeiro do Sul, Anclar Patric, a fechar a capa do jornal. Com 12 anos de trabalho no jornal impresso diário, digo que já tinha feito vários trabalhos, mas não tinha fechado a capa do centenário. Aceitei o convite e esse aí ao lado foi o resultado de minha primeira experiência.

quarta-feira, outubro 02, 2013

Fome e atitude


Hoje, leio na capa do jornal: "Uma a cada oito pessoas no mundo sofre com a fome". Na matéria, o detalhe: 25% "continua sendo" na áfrica subsaariana.

(silêncio)

O "continua sendo" está devidamente usado no texto.
Quando eu nasci, há 38 anos, esse era um grande problema.
Lembro que, quando tinha 10 anos - em 1985 -, esse continuava sendo um grande problema. Naquele ano, os 45 maiores músicos dos Estados Unidos gravaram a canção We are the World para combater a fome na África.

Volto a 2013. (quase 30 anos depois)

Ferramentas como a Internet dão a possibilidade das pessoas se agruparem por interesses comuns no mundo todo. Ferramentas que poderiam ser usadas para enfrentar problemas como esse.

No entanto, o que se vê é o uso dessas ferramentas só para a banalidade: piadas, besteiras, sexo, autoajuda e propaganda, muita propaganda e exibicionismo próprio. No meu círculo de amizades, o grupo que mais fez bom proveito da mídia social por um bem foi o de cachorreiros. Goste ou não do tema, eles construíram uma rede de busca, salvamento e recuperação de cachorros. Gente do Brasil inteiro que denuncia, ajuda a localizar e a financiar o atendimento veterinário.

O que você faz para deixar esse mundo melhor do que quando encontrou?

Pense: morre gente e de fome.
A pergunta que fica é: até quando? até quando?

quarta-feira, agosto 21, 2013

Entre Aspas

Assisto pouca TV, mas quando assisto e tenho sorte de coincidir com o horário, gosto do Entre Aspas, da GloboNews. Não sei se é regra, mas, pelos poucos programas que vi, percebi que sempre levam 2 entrevistados, com posições divergentes.

Hoje, levaram o desembargador Fausto De Sanctis e o professor da USP, Pierpaollo Bottini. Na pauta, a discussão sobre o julgamento do mensalão, se houve "chicana" ou não, se é possível haver embargos infringentes no processo ou não.

Independente da interpretação jurídica de cada convidado - fato rico e democrático -, o que me agrada é o debate de alto nível, debate técnico, sem cair na calhordice e simplismo de acusações políticas, do tipo "você está a favor deste ou daquele partido", dicotomia tão usual em nosso país. O debate técnico é uma coisa que falta, e muito, para o jornalismo brasileiro.

sexta-feira, agosto 16, 2013

Jornalismo, viagens e coincidências

Algumas coisas na vida ainda me assustam pela falta de explicação, uma delas é a coincidência. Fico realmente perplexo como certos eventos acontecem assim, sem qualquer planejamento, sem qualquer explicação, apenas coincidência.

Já presenciei várias situações em que a coincidência resumiu os fatos e foi a explicação mais fácil encontrada, mas uma delas até hoje me deixa perplexo, diante de tamanha complexidade para que ocorresse.

O começo dela se dá em 1998. O militar sorocabano Vécio Iudie Fujihara faleceu no Aconcágua, em sua tentativa de chegar ao cume daquela montanha. Trabalhando no jornal Cruzeiro do Sul como repórter e envolvido com esportes de aventura, fiquei incumbido de fazer o acompanhamento jornalístico do caso.

A certa altura da cobertura, entrei em contato com o escalador Fernando Augusto Vieira. Ele que acompanhava o sorocabano na tentativa de chegar ao ponto mais alto das Américas.

Liguei para a casa do escalador no Rio de Janeiro, me apresentei e o que encontrei do outro lado do telefone foi um rapaz emputecido, vociferando contra jornalistas. Disse que não daria entrevista, que já haviam distorcido suas palavras, que jornalista era isto e aquilo. Eu, do lado de cá, na redação do jornal, em Sorocaba, tinha acabado de arranjar mais um problema: precisava conseguir a matéria, mas, antes, teria de convencer o Fernando a me dar a entrevista.

Bom, resumindo, o fato é que fiz um acordo com o Fernando. Pedi a ele que me escrevesse uma carta, com o seu ponto de vista de todo o ocorrido e que me enviasse por fax. É, naquele tempo, as coisas funcionavam ainda pelo fax na redação. Nada de e-mail. Por telefone, garanti ao Fernando que iria negociar com o meu editor a publicação da íntegra daquela carta e prometi que, caso tentassem mexer no conteúdo, eu mesmo rasgaria o fax e deixaria a matéria pra lá.

O escalador topou. Me deu um voto de confiança. Algumas horas depois, recebi sua imensa carta pelo fax da redação. A matéria foi publicada. Um furo de reportagem na imprensa local e com um conteúdo exclusivo. (a matéria pode ser lida clicando na imagem abaixo)

Mas depois de contar essa novela, você deve estar perguntando: mas onde está a coincidência? Afinal, este post é sobre coincidência, não é? Pois bem. Eu precisava contar essa história para contar outra história e, então, a coincidência.

Em agosto de 2000, fiz parte da expedição Atahualpa 2000, da ONG italiana Akakor. Fomos à Bolívia para mergulhar no Lago Titicaca em busca de material arqueológico. Ao final da expedição, depois de uns 13 dias mergulhando, voltamos à cidade de La Paz, onde ficamos alguns poucos dias. Para quem não conhece, La Paz tem algumas ladeiras onde o comércio se concentra. E eu estava numa delas, já cansado fisicamente da expedição e querendo voltar para o Brasil.

De repente, ouço algumas pessoas falando português. Depois de tanta comunicação em italiano e espanhol, tive aquela sensação de "é de casa, é do Brasil". Me virei e fui conversar com os três brasileiros. E vocês sabem como é: brasileiro quando encontra brasileiro no exterior, faz festa.

E, então, nas apresentações, se deu mais ou menos o seguinte diálogo:

Eu: Vocês são de onde?
Eles: "Do Rio."

Eu: Ah, legal, eu sou de Sorocaba, interior de São Paulo.

Um deles: "Eu conheço um jornalista de Sorocaba, o Marcelo".

Eu: Marcelo? Eu sou jornalista e não conheço nenhum Marcelo. Quem será?

Ele: "Ele me entrevistou quando aconteceu um problema com um escalador de Sorocaba no Aconcágua."

E eu, assustado: "Você é o Fernando?"

Demos um abraço, relembramos a história da entrevista e fizemos essa foto pra registrar aquela feliz coincidência.

quinta-feira, julho 04, 2013

Impeachment via voto

Estão tratando a retirada do presidente egípcio como golpe. Para mim, golpe é eleger alguém para te representar e esse dirigente eleito - quando sentado na cadeira do poder - representar somente aqueles que pensam como ele (como os partidários ou, no caso do Egito, os de mesma religião). Isso sim é golpe.

Para evitar esse tipo de acusação de que o povo é "golpista", sou favorável ao processo de impeachment via urnas. Aproveitando as eleições existentes a cada dois anos, os eleitores deveriam ter o direito de votar se o governante do Poder Executivo - eleito dois anos antes - (prefeito, governador e presidente) está trabalhando direito e se merece continuar ou não no cargo.
Pare agora e pense: porque para eleger alguém o seu voto tem valor e para "deseleger", não? Para deseleger, atualmente, você é representado por políticos que votariam um impeachment.

Você não deveria votar para "deseleger" também?
Simples: se o governante não agrada a maioria, basta que essa maioria declare isso na urna eletrônica e, então, o governante sai. Isso não é golpe, é democracia. É a vontade da maioria sendo exercida.
Já pensou qual é a razão que te chamam para eleger alguém e deixam o processo de impeachment na mão só dos políticos? Justamente para que eles - os políticos - passem a maior parte do mandato sem se preocupar em te representar.

São 3 anos pensando no partido e 1 ano (o último) pensando no que fazer na cidade (qual obra ou maquiagem eleitoral) para conseguir novamente o seu voto para continuar no poder.

Daí, o povo sai às ruas para reclamar uma melhor representatividade e eles tratam isso como "golpe". Ah, tá...